A vitória de Jair Bolsonaro trouxe muitas incertezas sobre qual seria o destino das relações sino-brasileiras durante o seu mandato. Porém, desde a sua eleição, as incertezas vão sendo dissipadas e substituídas por diversas atitudes construtivas, como a vinda do vice-presidente Hamilton Mourão à China em maio deste ano; a reativação da Reunião da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação; o apoio do Brasil ao candidato chinês Qu Dongyu para diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura; a Reunião informal de líderes do BRICS à margem da Cúpula do G20, em junho, em Osaka, no Japão; a III Reunião do Diálogo Estratégico Global Brasil-China realizada em Brasília 25 de julho; a normalidade no fluxo comercial, etc. Nos dias 24 e 25 de outubro de 2019 será a vez do presidente brasileiro visitar a terra de Confúcio para se reunir com o presidente Xi Jinping e outras autoridades chinesas e, assim, aprofundar esse processo de diálogo.
Aliás, a progressividade harmoniosa é o que melhor define o avanço dessa parceria desde que os dois países estabeleceram suas relações diplomáticas em 1974. Fundamentado no respeito-mútuo e na busca de interesses convergentes, o diálogo sino-brasileiro tem sido a base com a qual essas relações conseguiram dar saltos tão expressivos ao longo desses 45 anos. Nesse sentido, essa visita do presidente Jair Bolsonaro deve reforçar ainda mais esse legado e abrir novas oportunidades para o avanço dessa parceria.
O que a administração Bolsonaro busca com essa primeira viagem é aparar possíveis arestas e demonstrar que o Brasil tem uma posição mais pragmática nas suas relações comerciais. Pelo menos foi isso que o presidente e seus ministros declararam durante o Brazil Investment Forum 2019, realizado em São Paulo nos dias 10 e 11 de outubro.
No referido evento, altos membros da administração federal buscaram mostrar que o Brasil está se esforçando para aumentar sua competitividade, diminuir barreiras e facilitar os negócios e os investimentos no país. Na plateia do evento, empresários brasileiros e estrangeiros, muitos deles chineses, puderam ouvir do ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, que o Brasil apoia todo aquele que deseje investir e gerar emprego no país. Onyx, que provavelmente estará na China acompanhando o presidente Bolsonaro, é hoje responsável pela Secretária do PPI (Programa de Parcerias de Investimentos), pasta responsável por levar a cabo o maior processo de privatização e concessão da história.
No mesmo Fórum, ao falar dos seus esforços para atrair investimentos, o presidente Jair Bolsonaro lembrou que “quanto à nossa querida China, mesmo que eu tenha sido muito criticado durante a campanha presidencial de 2018 por minhas posições sobre a China, a campanha (eleitoral) já acabou,” ressaltando ainda que o país é o maior parceiro comercial do Brasil.
Durante esta visita à China, a delegação brasileira buscará alcançar três objetivos: diversificar sua pauta da balança comercial, atrair investimentos para seus projetos de infraestrutura e aumentar a cooperação na aérea de pesquisa e desenvolvimento tecnológico.
Com essas ações práticas, o Brasil procura transmitir uma mensagem clara de que o país não toma partido contra a China, assim como não discrimina suas empresas e cidadãos que desejem investir e trabalhar no país. Além do mais, o governo brasileiro espera que a China mantenha e fortaleça seus projetos de parcerias e de cooperação econômica, buscando alcançar o desenvolvimento mútuo e harmonioso dos dois países.
Como grandes países em desenvolvimento, a confirmação dessa normalidade nas relações é fundamental para se impulsionar ainda mais o fluxo econômico, motivar novos investimentos e, sobretudo, contribuir para a construção de um ambiente internacional favorável à paz e à prosperidade material dos povos.
Fonte: Diário do Povo Online
(José Medeiros da Silva é doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo e professor na Universidade de Estudos Internacionais de Zhejiang, na China
Diego Vinícius Martins é bacharel em Relações Internacionais e Mestre em Desenvolvimento Chinês Contemporâneo pela Universidade Normal de Beijing)
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