Por Rafael Sette Câmara Postado em 23-05-2018 | Atualizado em 03-07-2018
Cixi |
Ela só podia conversar com homens por trás de um biombo de seda e não tinha permissão para andar em certas partes da Cidade Proibida. Mesmo assim, a Imperatriz Cixi governou a China por quase cinco décadas, controlando a vida de pelo menos 400 milhões de pessoas – no final da dinastia Qing, entre os séculos XIX e começo do XX, Cixi era a governante de um em cada três seres humanos no planeta.
Imperador Tongzhi |
Enquanto a Rainha Vitória, que foi contemporânea de Cixi, era uma monarca constitucional e não chefiava o governo de fato, Cixi exercia o poder de forma oposta: na teoria ela não mandava em ninguém, mas sim seu filho, o Imperador Tongzhi.
Na prática, porém, quem dava as cartas era Cixi, que criou uma biografia polêmica.
Ela foi responsável por modernizar a China e abrir o oriente para o ocidente, aboliu castigos medievais e práticas cruéis, inseriu a mulher na sociedade chinesa.
Cixi, de concubina a Imperatriz
Por conta da forma eurocêntrica de ver o mundo, Cixi é pouco conhecida no Ocidente. Mas basta uma passagem pela Cidade Proibida, em Pequim, para perceber que a Imperatriz é uma figura histórica tão importante para o país como Mao Tsé-Tung, cujo corpo descansa num gigantesco mausoléu na Praça da Paz Celestial, do outro lado da avenida.
Nas explicações dadas pelo audio guide da Cidade Proibida, Cixi é uma das personagens mais citadas. Nascida numa família importante e com acesso à educação, que em geral era apenas para homens, ela entrou para a corte aos 16 anos, quando foi escolhida como uma das muitas concubinas do Imperador Xianfeng. Mas ela não era uma de suas favoritas – na realidade, Cixi conquistou certa antipatia do monarca ao dar conselhos sobre questões políticas, algo que era inadmissível para mulheres.
Imperatriz Xiaozhenxian |
Amiga da Imperatriz Xiaozhenxian, Cixi foi, aos poucos, galgando posições na escala das concubinas. O passo definitivo veio quando nasceu Tongzhi, filho de Cixi com o Imperador e único descendente masculino deste. Xianfeng morreu quatro anos mais tarde, deixando Tongzhi como herdeiro do trono chinês.
Oito regentes, todos homens, foram apontados para governar o país até que o monarca crescesse, mas Cixi e a Imperatriz Xiaozhenxian viram nesse momento uma oportunidade. Elas derrubaram os regentes. Depois, ambas acharam um precedente, do século XVII, que permitiu que Cixi também fosse declarada Imperatriz, o que deixou a China com duas governantas. Usando o sinete imperial, elas passaram a governar o país em nome do Imperador-criança. O governo dividido das duas Imperatrizes só chegou ao fim vinte anos depois, quando Xiaozhenxian morreu.
Sobrinho, Guangxu |
Cixi ficou no trono por mais 30 anos, até sua morte, em 1908. Seu poder permaneceu o mesmo com a maioridade de Tongzhi, que em seu curto reinado não se interessou por assuntos políticos e preferia farrear – o Imperador morreu jovem, aos 19 anos. Cixi adotou então um sobrinho, Guangxu, que foi declarado Imperador.
Assim começou um novo período regencial, novamente com a Imperatriz no centro do governo de um Imperador-criança. Quando Guangxu atingiu a maioridade, ele até tentou governar de fato, mas esbarrou em Cixi, que continuou dando as cartas.
Em outros campos, as décadas de Cixi foram de avanços. Ela criou as primeiras ferrovias do país, incentivou o desenvolvimento da indústria chinesa, ordenou a instalação do primeiro telégrafo, modernizou o exército e melhorou as relações e o balanço comercial da China. Ao trazer estrangeiros para dentro do governo, ela abriu a China para o ocidente. Ela também patrocinou e estimulou as artes, incentivou a educação de mulheres e era uma entusiasta das novas tecnologias, como a fotografia.
Cixi morreu em 15 de novembro de 1908.
Fonte: 360meridianos
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